7 mitos sobre infertilidade
Mesmo em meio a tantos avanços científicos, que já permitem ao Brasil desenvolver pesquisas com células-tronco e a uma imensa variedade de tecnologias de reprodução humana, há lugares no País onde a informação simplesmente não chega. Quando chega, nem sempre está amparada por dados científicos, divulgados por meios, instituições e profissionais de credibilidade para tratar alguns assuntos sérios, como o tema infertilidade. Há lugares onde as pessoas costumam recorrer a medicina 'popular', ou seja, onde a prescrição médica é 'a recomendação do amigo', 'a reza do vizinho' ou 'a simpatia do parente'. E muitas destas crenças em saúde - apesar de não corresponderem ao conhecimento científico - são incorporadas ao repertório popular sem qualquer comprovação prévia, podendo prejudicar quem busca formar sua família.
Crenças sobre infertilidade
O imaginário popular criou, ao longo do tempo, uma série de ideias que foram se consolidando como verdades absolutas, dando origem aos famosos 'mitos' ou 'preconceitos'. O corpo feminino e a fertilidade da mulher são fontes de inúmeras fantasias que, ao invés de ajudar as mulheres, podem criar inúmeros obstáculos. Com o homem não é muito diferente. Antes de conhecer uma lista dos sete maiores mitos sobre o assunto, vamos esclarecer quando um caso pode ser considerado de infertilidade e quais as principais causas para homens e mulheres.
Infertilidade e suas principais causas
Clinicamente, a infertilidade é apontada pelos médicos como a incapacidade de produzir uma gravidez após pelo menos um ano de tentativas sem o uso de nenhum método contraceptivo e com atividade sexual regular. A partir desse período é importante procurar um médico que possa descobrir a causa desta dificuldade e indicar os melhores tratamentos para reverter a infertilidade. Para mulheres após os 35 anos de idade, é importante buscar ajuda mais cedo, e em geral com seis meses de tentativas já se pode iniciar a pesquisa de um diagnóstico. Vale lembrar que, com o avançar da idade, a mulher produz óvulos com menor qualidade e quantidade, dificultando cada vez mais a obtenção da gravidez. Confira abaixo as causas de infertilidade feminina e masculina.
Principais causas da infertilidade feminina
Causas ovarianas e ovulares:
Síndrome dos ovários policísticos ou síndrome da anovulação (ausência de ovulação) crônica, insuficiência ovariana prematura ou menopausa precoce, secreção excessiva de prolactina, hipotireoidismo e a idade avançada da mulher, devido à diminuição progressiva e às vezes precoce da qualidade e quantidade dos óvulos (basicamente, a partir dos 37 anos).
Causas tubárias, uterinas e do canal do colo uterino:
São representadas pelas lesões das tubas uterinas com aderências e até a obstrução tubária, geralmente provocadas por processos infecciosos da pelve e as vezes pela endometriose, as alterações da cavidade do útero como as causadas por miomas, pólipos ou curetagens, entre outras, e as alterações na secreção do muco cervical de origem infecciosa ou mesmo por malformações congênitas.
Causas ligadas à fertilização do óvulo:
Problemas dos espermatozóides ou do óvulo, como possíveis defeitos nos cromossomos ou nas outras estruturas que regulam a fusão dos dois gametas e não permitem a fertilização. A exposição a fatores de risco (raios-X, radiações e medicamentos tóxicos) e a idade da mulher também podem dificultar ou impedir a fertilização.
Causas ligadas à implantação do embrião:
A implantação é a penetração do embrião na camada que reveste a cavidade uterina, chamada de endométrio. Esse revestimento é preparado para receber o embrião formado após a ovulação e fertilização.
Os hormônios femininos (estrógeno e progesterona) são responsáveis pela preparação do endométrio, durante o ciclo menstrual. Portanto, problemas hormonais, assim como as infecções podem produzir um endométrio inadequado para a implantação.
Principais causas da infertilidade masculina
Criptorquidia (testículos que não desceram);
Malformação identificada no nascimento do menino, caracterizada pelo posicionamento incorreto do testículo, atrapalhando a produção de espermatozóides após a puberdade. O problema deve ser corrigido na infância para evitar a infertilidade.
Outros fatores que causam a infertilidade masculina:
- Fatores genéticos;
- Fatores hormonais;
- Infecções, como prostatites, uretrites, infecções urinárias e obstrução do canal por onde passam os espermatozoides;
- Varicocele (veias do testículo com dilatação anormal).
- Radioterapia, quimioterapia, doenças neurológicas, diabetes, traumas testiculares, drogas e doenças sexualmente transmissíveis também são fatores que podem causar problemas de infertilidade no homem.
Todas essas causas em geral terão efeitos sobre as características do material ejaculado, do sêmen, e dos espermatozóides avaliados no exame de espermograma, tais como alterações no número, na capacidade de movimentação ou em sua forma.
Infertilidade sem causa aparente
A Infertilidade Sem Causa Aparente (ISCA) é diagnosticada quando, mesmo após a realização de todos os exames disponíveis para analisar possíveis causas de infertilidade, tanto feminina quanto masculina, os médicos especializados em reprodução humana ainda não conseguem encontrar um motivo concreto para o casal não conseguir engravidar.
A ISCA acomete, em média, de 10% a 15% dos casais que são considerados inférteis e apresentam dificuldades em gerar uma criança. Muitos optam por procurar uma clínica de reprodução humana, mas não apresentam alterações fisiológicas e/ou orgânicas que justifiquem ou expliquem a infertilidade conjugal.
Antes de confirmar que o casal realmente apresenta Infertilidade Sem Causa Aparente, é muito importante rever todos os exames que realizaram e, se for o caso, repetir alguns que apresentaram alguma alteração pequena ou que foram coletados há mais tempo.
Principais mitos sobre infertilidade
1 - 'A mulher é responsável pela maioria dos casos de infertilidade'
Ninguém é mais responsável que o outro pelas dificuldades de gerar filhos. Em cerca de 40% das vezes, a dificuldade provém do homem. Em outros 40%, da mulher. Nos outros 20% restantes, os dois possuem problemas que impedem a gravidez.
2 - 'Casais com fertilidade normal engravidam no primeiro mês'
Para os casais com fertilidade normal, a chance de gravidez por ciclo ovulatório gira em torno de 20%. Portanto, não é surpresa o fato de que podem se passar vários meses até que o casal consiga a gravidez. Sabe-se que ao final do primeiro ano de relacionamento sexual ativo, sem uso de qualquer método anticoncepcional, 85% dos casais terão conseguido a gravidez. Os 15% restantes, ou seja, 1 em cada 6 casais, não a conseguirão. São estes os casais que devem procurar ajuda médica para ter filhos.
3 - 'Ter endometriose impede a gravidez'
Números divulgados pela Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) mostram que 50% dos casos de infertilidade feminina estão associados à endometriose, o que não significa que seja ela, a endometriose, a causadora da infertilidade. Por outro lado, apenas 30% das mulheres com endometriose terão infertilidade. Ou seja, 70% podem obter sua gestação sem utilizar tratamentos.
Para aquelas que precisam de tratamentos de reprodução assistida, as opções disponíveis são seguras e eficientes. Dentre as alternativas com maior chance de sucesso está a fertilização in vitro (FIV). Alguns casos, no entanto, podem ser resolvidos de maneira mais simples, com tratamentos clínicos ou mesmo cirúrgicos.
4 - 'Usar pílula anticoncepcional por muito tempo provoca infertilidade'
O uso de pílulas anticoncepcionais não causam infertilidade. Independentemente do tempo de uso do método contraceptivo, geralmente a mulher está apta para engravidar dentro de algumas semanas após a interrupção do anticoncepcional.
No entanto, em algumas situações, o uso do anticoncepcional pode mascarar outros problemas, caso os hormônios contidos na pílula amenizem os efeitos de algum outro sintoma que possa ser associado com a infertilidade, como os distúrbios hormonais de origem hipofisária ou mesmo ovarianos por exemplo.
5 - 'Mulheres com ovários policísticos não têm chances de engravidar'
A Síndrome do Ovário Policístico é um distúrbio endócrino que altera os níveis hormonais, fazendo a mulher ovular menos. Essa condição diminui, mas não elimina, as chances de uma gravidez. Para quem precisa de tratamento, diversas são as opções, de acordo com o histórico de cada paciente e a recomendação de cada médico. Existem várias alternativas, que vão desde exercícios, dietas e suplementação, até a utilização de remédios para estimular a ovulação.
6 - 'A mulher que faz tratamento para engravidar terá gêmeos ou trigêmeos'
Alguns casos de gravidez múltipla em tratamentos de reprodução assistida, como inseminação artificial ou fertilização in vitro, acontecem porque geralmente são recrutados mais óvulos no procedimento ou transferidos mais de um embrião por ciclo para aumentar as chances de gestação.
Mas, com as melhoras nas técnicas fertilização in vitro, no congelamento e descongelamento dos embriões observadas nos últimos anos e que aumentaram a eficiência destes procedimentos, permitiu-se uma redução no número de embriões transferidos sem a redução das chances de gestação. Com essa melhor eficiência e as regras estabelecidas pelo Conselho Federal de Medicina, que relacionaram o número de embriões com as faixas de idade das mulheres, esses riscos estão diminuindo significativamente.
7 - 'Útero retrovertido dificulta a gravidez'
O útero retrovertido, também conhecido como útero invertido, é uma condição que quando natural e isolada, não interfere diretamente na fertilidade feminina. Ele só dificulta a gravidez quando está associado ou é resultante de algum outro quadro patológico, como as infecções pélvicas ou até mesmo a endometriose que podem causar a fixação do útero na parede posterior da cavidade pélvica através de aderências.
Considerações finais
Cuidado com a crendice popular, quando existe um problema de fertilidade, o ideal é procurar o quanto antes um especialista e verificar as melhores opções de tratamentos estudados e validados cientificamente por médicos, para a resolução do problema. Cada paciente é único e necessita de um tratamento individualizado. E quando se fala em fertilidade, principalmente a feminina, quanto mais cedo a mulher ou casal buscarem ajuda, mais chances terão de realizar o sonho da maternidade e da paternidade.
Dr. Rodrigo Sabato Romano
Categoria: Dúvidas
Publicado em: 16/04/2019