CLASSIFICAÇÃO EMBRIONÁRIA
Com o avanço das técnicas de reprodução assistida, é de fundamental importância selecionar o melhor embrião.
Desde a introdução da Fertilização In Vitro (FIV) no tratamento de infertilidade, inúmeros estudos têm sido realizados com o objetivo de se desenvolverem biomarcadores e produtos do metabolismo embrionário. No entanto, a análise morfológica, ou seja, a avaliação visual permanece o método de seleção mais utilizado no dia a dia da maioria dos laboratórios. Na maioria dos serviços avalia-se a qualidade embrionária a partir da análise dos gametas (óvulos e espermatozoides) até a fase de embriões, quando então notas dos parâmetros avaliados durante este período de cultura celular são dadas.
Desenvolvimento embrionário e morfologia
Vários sistemas de graduação são utilizados e baseados principalmente na velocidade de clivagem (velocidade de divisão celular), número e tamanho dos blastômeros (células) e na porcentagem de fragmentação dos embriões. Outros sistemas de classificação mais rigorosos, consideram também importante avaliar a multinucleação das células, as alterações extra e intracitoplasmáticas e o grau de interação celular. Para melhor entender o valor dos critérios morfológicos que norteiam a seleção embrionária para transferência, deve-se analisar detalhada e isoladamente cada parâmetro para assim, classificar o embrião como um todo, estabelecendo notas de acordo com o seu potencial. Vale lembrar que a classificação de embriões é um processo contínuo, que prioriza o histórico dos mesmos. Portanto, não é de uma avaliação isolada que se obtém uma classificação, e, sim, do conjunto de dias de cultivo analisados.
Vamos aqui avaliar alguns destes pontos:
Clivagem
Clivagens são as várias divisões celulares que resultam em um rápido aumento no número de células ou blastômeros. Normalmente, no dia 2 de cultivo celular (D2) os embriões atingem o estágio de 4 células (Figura 1), e no dia 3 (D3) o estágio de 8 células (Figura 2).
Fragmentação
A fragmentação é um fenômeno é observado tanto In Vitro como In Vivo, e parece ser um acontecimento natural durante o desenvolvimento embrionário. A interpretação do significado real da fragmentação celular para o potencial de desenvolvimento do embrião, passa pela observação de que não só a quantidade como também a distribuição (onde os fragmentos estão localizados) podem ser importantes na seleção embrionária.
Multinucleação
Embriões humanos que são cultivados In Vitro podem ter dois ou mais núcleos visíveis em um mesmo blastômero e o correto é que se tenha um núcleo em cada célula. Apesar de observada em um terço dos embriões e ser responsável por uma maior incidência de alterações cromossômicas (74,5%) quando comparados com embriões não multinucleados (32,3%), estes ainda podem ser viáveis. A multinucleação também está correlacionada com a diminuição da taxa de implantação e do desenvolvimento embrionário, levando conseqüentemente a uma menor taxa de formação de blastocistos. Além disso, alguns trabalhos mostram que a multinucleação está diretamente associada à idade feminina e à fragmentação embrionária.
Conclui-se então que independente da origem da multinucleação observada nos embriões, estes são considerados como de baixa capacidade de desenvolvimento.
Alterações extra e intra citoplasmáticas
ZONA PELÚCIDA
A zona pelúcida é uma glicoproteína que reveste o embrião e serve como barreira de proteção durante a implantação embrionária, além de preservar a estrutura tridimensional e a integridade do embrião.
O afinamento da zona pelúcida inicia-se durante a primeira e a segunda clivagem e continua progressivamente até a formação do blastocisto. No entanto, esse afinamento não ocorre em todos os embriões, o que pode dificultar a implantação dos mesmos.
Alguns embriões podem adquirir uma alteração na coloração da zona pelúcida, sendo marrom-amarelada ou marrom escura e são candidatos, a serem submetidos ao Assisted Hatching (abertura forçada da zona). (tema para mais uma curiosidade inteira).
Os embriões podem ter zona pelúcida com formatos bem estranhos como: ovalados, vírgula, ampulheta, entre outros. No entanto, quando estas formas aparecem, a capacidade de formar blastocistos ficam bastante reduzidas devido à dificuldade de interação entre os blastômeros.
VACUOLIZAÇÃO
A vacuolização geralmente indica um prognóstico ruim para o desenvolvimento ideal do embrião. No entanto, os vacúolos pequenos, são bastante comuns e podem não interferir no potencial embrionário, enquanto os vacúolos grandes são prejudiciais e contribuem para a diminuição no desenvolvimento do embrião.
Vale a pena ressaltar que muitas outras características podem ser incluídas e avaliadas quando presentes, podendo alterar a nota do embrião. A decisão de possuir uma classificação mais rigorosa e completa na rotina do laboratório varia de acordo com a experiência dos embriologistas que devem fazer esta avaliação em um menor tempo possível para não expor os embriões a um stress desnecessário.
E para o Blastocisto? Como é dada a nota?
Através da graduação morfológica que avalia a expansão da blastocele, a morfologia do trofoblasto (TF) e da massa celular interna (ICM) e que tem a vantagem de não ser invasiva, ser rápida, com possibilidade de homogeneização entre os embriologistas, ter baixo custo e boa correlação com as taxas de gestação. (Figura 1)
Durante a formação do blastocisto ocorre a expansão gradual da blastocele e as células do trofoblasto tornam-se elípticas e polarizadas, enquanto as células da massa celular interna permanecem arredondadas e morfologicamente indiferenciadas. O trofoblasto prolifera mais rapidamente que a ICM e possui o dobro do número de células no começo da cavitação em D4, enquanto que a ICM terá o dobro de células apenas em D5 e D6. O blastocisto humano possui mais de 60 células no D5, cerca de 160 células em D6, e mais de 200 em D7 após o hatching.
- A cavidade do blastocisto (blastocele) é avaliada a quantidade e o tamanho de células, bem como a espessura da Zona Pelúcida. A isso pode se dar um nome ou um número dependendo da classificação adotada.
- 1 ou Cavitando
- 2 ou Blastocisto Jovem
- 3 ou Blastocisto Completo
- 4 ou Blastocisto Expandido
- 5 ou Blastocisto Hatching
- 6 ou Blastocisto Hatched
- A Massa celular interna também pode ser dada uma letra ou número
- 1/A muitas células compactadas/ proeminente, facilmente perceptível e com muitas células compactadas.
- 2/B diversas células frouxas/ facilmente perceptível e com muitas células, mas pouco agrupadas.
- 3/C poucas células / dificilmente perceptível e com poucas células.
- Trofoblasto também pode ser dada uma letra ou número
- 1/A muitas células formando um epitélio coeso
- 2/B diversas células aumentadas em seu tamanho formando epitélio frouxo
- 3/C poucas células muito largas
O desenvolvimento dos blastocistos é influenciado tanto por fatores inerentes aos pacientes, como qualidade do sêmen e idade materna, como aos associados a fatores precoces de desenvolvimento. A classificação morfológica dos embriões no dia 2 e 3 de cultivo, assim como os gametas e zigotos que os formaram, pode predizer a formação de blastocistos. No Projeto Alfa é utilizado um score que divide os embriões em notas de pior qualidade que recebem nota R, qualidade intermediária nota M e melhor qualidade nota B. Um levantamento mostrou que quando embriões M e B permanecem em cultura prolongada apresentam taxa de blastulação significantemente maior (60/70%) em relação a embriões com nota R (20/30%).
Categoria: Blog
Publicado em: 22/02/2023